Aproveitando o feriado do dia de Portugal, desloquei-me a Macedo de Cavaleiros para disputar o 3º Torneio do Convento de Balsamão. Acompanharam-me a minha esposa e filhos e também o Paulo Pinho e família. Este relato era suposto estar dividido em partes que eu “postaria” enquanto o torneio decorria, mas para minha decepção, no Convento a rede de telemóveis era uma miragem e a wireless da casa simplesmente não funcionava. Assim, tive de guardar tudo para o fim.
Primeiro, umas palavras sobre o torneio. A vista do Convento de Balsamão é deslumbrante e o serviço da casa, considerando o que se paga, muito bom. Pode-se dizer que é um sítio perfeito para organizar um torneio de xadrez. O isolamento próprio do local ajuda a diminuir as distracções e convida a levar a família para um passeio. Foi pena que o tempo estivesse péssimo desde quinta-feira até domingo. Para os jogadores pode não ter feito grande diferença, mas para os acompanhantes sim. A organização decorreu sem problemas de maior, exceptuando alguns atrasos que seriam perfeitamente evitáveis se não nos estivesse na massa do sangue o “deixa-andar” tão nosso característico. Mas isto são assuntos para outros locais. O árbitro quase não teve trabalho, pelo menos que se notasse, tirando uma ou outra situações próprias do jogo e do material.
Para quem vai com um elo como o meu (1536), já se sabe que a primeira ronda é para o matadouro. Desta vez não foi diferente. Tocou-me o FM Pablo Rodriguez (2236) de Espanha, que não teve dificuldades nenhumas para me limpar o sebo. Eu saí logo mal da abertura e perdi um peão e depois outro ao chegar a esta posição, de pretas.
As brancas tinha acabado de jogar 25. Bxb5. Eu já tinha antecipado esta posição, e como o jogo já estava perdido, decidi sacrificar a qualidade para recuperar os dois peões com 25... Txa2!. Foi o único momento do jogo em que o meu adversário se pôs a pensar. Decidiu deixar ir o peão de b2 e eu ainda tive algumas esperanças de aguentar mais tempo. Infelizmente, passados oito lances cometi outro erro táctico e uma troca de torre por cavalo e bispo deixou-me com uma peça a menos e desisti ao 33º lance.
O 2º jogo de quinta-feira deu-me as peças brancas contra Joana Branco (CX Pedro Hispano, 1211 FPX). Ao final de uma hora e 17 lances a minha posição já era de ganho e o jogo acabou ao lance 24. A única posição curiosa foi esta.
O ataque das brancas já é ganhador, mas vi 23. Ch5!? e achei que era a melhor forma de encerrar a partida. É uma chatice quando a porcaria do Fritz pega num lance tão inspirado e bonito como este diz que não presta, porque 23. Cf5! era muito melhor. Acabou por não fazer diferença nenhuma porque o jogo acabou no lance seguinte.
Na sexta-feira enfrentei o Miguel Ferreira (AX Gaia, 1863) de pretas. Joguei muito bem a abertura e igualei facilmente, embora o meu adversário jogasse a uma velocidade tal que já me fazia temer pelos apuros de tempo quando chegamos ao lance 20. Neste jogo cometi um único erro sério, que me custou a partida.
Permiti a entrada da dama para e7 porque me parecia que o contra-jogo das pretas era muito perigoso, e fiquei um tanto surpreendido quando o meu adversário jogou 25. De7. Vi que com a dama em c2 e o cavalo em g4 não é possível às brancas defender f2. Depois de calcular uma variante, lá fui eu. 25...Cg4? 26. Dxb7 Dc1+ 27. Bf1 Dc2. Até aqui eu tinha calculado, mas assim que larguei a dama em c2, vi a continuação que o meu adversário jogou. 28. Dc8+ e o cavalo de g4 cai. Ainda pensei durante dois ou três minutos se valia a pena continuar, mas vi logo que não e desisti. 25... Ce4!, com mesma ideia, mas mantendo o cavalo protegido, era a continuação normal e o jogo prossegue igualado.
Sábado à tarde, e o jogo contra o Rui Gonçalves (GD Dias Ferreira, 1212 FPX) de brancas. Curiosamente, a mesma variante da abertura que a Joana Branco utilizou (1. e4 e5 2. Cf3 Cc6 3. Bb5 Cge7). Preparação?! Se não é, o que é que andam a ensinar a estes miúdos? O Rui jogou a abertura de forma bastante deficiente, e ao lance 8 eu já estava a ameaçar mate. Mas a defender, o rapaz fez bem melhor que a Joana. Deu uma peça por um peão para parar o ataque branco e depois aguentou-se durante 67 lances e quase três horas e meia de jogo (com três propostas de empate pelo meio). Também ajudou o facto da minha peça a mais ser um bispo de casas brancas e os meus peões estarem todos nas casas desta cor.
No sábado à noite, pretas contra José Figueiras (CPND Albufeira, 1827). Também consegui igualar facilmente e quando o meu adversário tentou forçar um ataque, até tive alguma iniciativa.
Depois de ter jogado 23... Tfe8, não consegui ver nenhuma linha clara de vantagem para as pretas, depois das trocas em e5. Assim, aceitei o empate. Tanto o Luís Silva como o Paulo Pinho disseram-me que deveria ter continuado, mas com um jogo correcto não me parecia haver muito a tirar da posição, e além disso, foi a primeira vez que consegui pontuar (em lentas) contra um jogador com ELO acima de 1800.
Para encerrar, calhou-me mais um espanhol: Javier Contreras (1911), de brancas. Foi o meu jogo mais espectacular de todo o torneio. Joguei um gambito e as pretas aceitaram. Aproveitei bem a compensação e recuperei o peão ao lance 15, e estava claramente por cima. Depois o meu adversário aproveitou um golpe táctico para ganhar outro peão, mas a minha posição era tão boa que atirei-me a ele e voltei a igualar o material. O jogo tinha sido tão complexo que já estávamos ambos com cerca de 30 minutos no relógio ao lance 31 e achei por bem oferecer um empate. O meu adversário pensou durante uns 5 minutos e recusou, e logo depois aconteceu isto.
As pretas acabaram de jogar 32... Dc4. Nem eu nem o Javier vimos que 33. Cc5! é um lance matador. As brancas ameaçam Da8, ganhando o bispo, pelo que as pretas são obrigadas a perder material (pelo menos dois peões). No entanto, joguei 33...Ce5?, o segundo lance de cavalo ao lado do torneio! As brancas entraram com a dama em e2, mas o jogo prosseguiu, porque também coloquei a dama em f7, ameaçando um perpétuo com Dg6 e De8. Foi só depois de mais hora e meia de jogo e ao lance 51 (e uma quantidade enorme de xeques) que me vi forçado a desistir quando as pretas chegaram com um peão a f2.
Resumindo, 2,5 pontos que deram direito a um 47º lugar. A classificação não interessava muito, mas não me importava nada de ter feito mais um pontinho. Fica para o ano.
Já o Paulo Pinho conseguiu uma boa classificação, um 11º lugar com 4 pontos. Ainda poderia ter sido melhor, porque na última jornada o Pinho não esteve com meias medidas e atirou-se com tudo ao FM Jose Miguel Ruiz (2292 e que, de caminho, tinha empatado com o Javier Contreras). Uma vitória daria o 4º lugar ao Paulo. Perdeu, mas fez um bom torneio. A outra derrota foi contra o IM António Fróis.
5 comentários:
Ora cá está uma excelente reportagem! Estou curioso para ver os jogos.
Caro Alexandre, ainda nos deves a crónica da Taça!
Alexandre, finalmente saciaste-nos com mais uma belíssima peça do teu reportório.
Um fim-de-semana em cheio para 6 atletas do clube e poderiam ter sido mais.
Boa tarde.
Parabéns aos dois pela participação, espero que se tenham divertido.
Foi bom ver um fim de semana com os nossos atletas a participarem em diversos torneios, sinal inequivoco do crescimento do clube.
Foi pena o tempo, paciencia, o objectivo era jogar xadrez, mas uns passeios e umas idas à praia são sempre bem vindos.
Cumprimentos
Joaquim Machado
Olá,
Antes de mais obrigado por ter participado no 3º torneio de Xadrez de Balsamão e fico contente por terem gostado, queria no entanto perceber quais foram os atrasos que houve...não ponho em causa que possa ter havido, só queria perceber quais foram, com vista a obviamente melhorar.
Abraço
Carlos Carneiro
Viva,
Referia-me aos atrasos nas saídas para as actividades fora do Convento, mais concretamente no dia 11, em que estivemos uma hora à espera do autocarro.
Na crónica deveria ter explicado melhor esta questão, porque não teve directamente a ver com a organização do torneio de xadrez, mas sim do evento como um todo. E como o Carlos explicou-me no próprio dia, a responsabilidade pela vinda dos autocarros cabia à Câmara de Macedo de Cavaleiros.
Esta situação causou algum desagrado, e também algumas desistências para as actividades do dia seguinte.
Tentei aligeirar o caso na crónica, para não lhe aumentar a importância, mas se lhe causei algum melindre, peço desculpas.
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