terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Histórias de Xadrez - X

O Quim* resolveu ir ao clube, para mais umas partidas de xadrez, e quem sabe, umas apostas. Logo que lá chegou, encontrou o Tone*, velho freguês das suas artimanhas.
Assim que o viu, o Tone fez logo saber o que pensava - "não me venhas outra vez com as tuas histórias. Já estou farto de ser levado!". O Quim, imperturbável, pegou em algumas peças e um tabuleiro vago e disse: "É pena. Aqui está uma posição muito interessante, que tive num jogo na Internet".


"Podes jogar de pretas, se quiseres. Fazemos a nossa apostazita do costume. Aposto que perdes". O Tone ficou ofendido - "Posso não ganhar, mas com certeza não vou perder esta posição! Está apostado!". Mal o Tone acabou de dizer estas palavras, o Quim jogou 1. Cf6.
"Batoteiro!!!" explodiu o Tone. "Deste-me a dama, mas eu sou obrigado a perdê-la!". "Azar..." respondeu o Quim. O jogo prosseguiu com 1... Dg6 2. Te8+ Rg7 3. Tg8+ Rxf6 4. Txg6+ hxg6 5. a5, e o Tone abriu a carteira para entregar uma nota de 10 € ao Quim.
"Queres trocar de lado?" - perguntou o Quim - "Eu jogo de pretas e tens de me ganhar." O Tone já estava desconfiado, mas aceitou. Seguiram-se os lances 1. Cf6 Dg1 2. Te8+ Rg7 3. Tg8+ Rh6, e como as brancas são obrigadas a afogar o rei, o Tone perdeu a segunda aposta,e  a segunda nota de 10 € (4. Cg4+ Rh5 5. Cf6+ Rh6 não faria qualquer diferença). 


Para encurtar a história, houve uma terceira aposta, e o Quim previu que "desta vez vou perder". De brancas, o Quim jogou 1. Cg7 Dxg7 (1... Rxg7 2. Tg2+) 2. Te8+ Dg8 3. Txg8+ Rxg8 4. a5 . Desta feita, vermelho de raiva, o Tone amassou a nota e atirou-a ao chão...
Obviamente, houve uma quarta aposta. Desta vez, o Quim afirmou que jogaria um lance fraco (1. Cf6) e ainda ganharia.
1. Cf6 Dg1 ("Aprendes depressa" - disse o Quim) 2. Ch5!! - as pretas não têm melhor que retornar com a dama 2... Dg8 (2...h6 3. Te8+ Rh7 4. Cf6+), ao que as brancas respondem 3. Cg7! Ao ver este lance, o Tone levanta-se, revira os olhos e desmaia. O Quim, calmamente, dá a volta a mesa, tira-lhe 10 € da carteira e dirige-se para a porta...

* Nomes fictícios.
Esta história foi adaptada de um conto publicado por Amatzia Avni na revista Chess de Fevereiro de 2000, que por sua vez, resgatou um estudo de 1920, composto por David Przepiorka.

3 comentários:

Professor Mário Oliveira disse...

No mínimo maravilhoso... Estes artigos são verdadeira pérolas! Parabéns...

Joaquim Machado disse...

O xadrez é um jogo fantástico!!! Mais uma vez parabéns Alexandre.

Miquinhas disse...

LOL!