Continuando com muito atraso...
Eis os destaques da ronda dupla:
Ronda 2
Cláudia vs Daniel Brossard
Tiago vs Shao Hang He
Ronda 3
Guipi Bopala - Cláudia
Alexander Young vs Tiago
Fisicamente activos e socialmente integrados, os nossos jogos fluiram naturalmente, tendo a Cláudia conseguido culminar o seu ataque num xeque-mate e eu, apesar de não ter encontrado esse caminho vitorioso, travei uma boa batalha com o David Pena Frasier - creio que foi a minha partida mais interessante, embora a minha técnica não se tenha mostrado suficientemente desenvolvida para a vantagem de um peão ter frutificado em mais que na divisão do ponto que pontuou um justo empate.
Edward Selling (EUA) vs Tiago
O bom nível de vida generalizado é também visível no facto de nesta cidade com cerca de um milhão e meio de habitantes as bicicletas ficarem estacionadas na rua e não desaparecerem com frequência, as portas das casas estarem muitas vezes entreabertas e as janelas não se encontrarem frequentemente protegidas por cortinados.
Para este modo de vida deve contribuir o facto de os serviços públicos de prevenção e segurança estarem bem equipados e funcionarem: bombeiros e polícias conduzem verdadeiros aviões, têm porte atlético e estão amplamente equipados, além de levarem a sério o cumprimento do seu serviço - vi um sinaleiro autuar um peão que atravessou na passadeira mas em desobediência ao apito.
Ronda 6:
Na entrada para a recta final da prova:
- A Cláudia estava com 2,5/5, o que a deixava no grupo dos 29.º em 72 participantes (era a n.º 70 do ranking inicial da secção E);
- Eu tinha 3,5/5 e devia estar no grupo dos 13.º classificados. A secção C tinha 98 jogadores e eu era o 21.º do ranking inicial.
Laurianne Roussel vs Cláudia
Montreal estava repleta de eventos culturais, muitos deles de acesso gratuito. Para terem uma ideia, durante estes dias fomos ao festival "Noites de África", ao "Just for laughs", ao "Mondial des Jeux" e assistimos à competição internacional de fogos de artifício - tudo sem bilhete de entrada.
Quanto a curiosidades, no Canadá os concertos começam às seis e meia da tarde - e as pessoas já vão jantadas! -, e como os arrendamentos anuais são muito frequentes, as pessoas põe no lixo electrodomésticos, mobiliário e utensílios com papéis a dizer "ça marche" que os vizinhos levam para casa para substituir os seus que por sua vez vão para o passeio com igual "funciona"! Outra forma muito habitual de esvaziarem a casa ou os armários é através de vendas de garagem que são anunciadas em folhas A4 manuscritas coladas com fita cola nos postes de electricidade.
Nesta altura do campeonato já estávamos em piloto automático. A Cláudia, mais cansada, teve uma série negra, enquanto eu fui vendo com alguma surpresa que mesmo os oponentes que ainda estavam invictos no torneio, apesar de terem bons instintos atacantes, não tinham grande sentido de perigo e caminhavam com alguma naturalidade para os poços que eu ia cavando...
Ronda 7:
Cláudia vs Ziyi Zhong
No final da primeira jornada, o nosso staff técnico fez um tremendo trabalho de recuperação psicológica.
Bastou um belo jantarinho para eu ficar totalmente mentalizado que a minha dolorosa e humilhante derrota tinha sido uma espécie dos nossos típicos Gambitos Sobremesa, e tudo ficou preparado para a inversão dos acontecimentos no dia seguinte, dia de jornada dupla que começou muitíssimo bem com um brunch impecável antes da partida das 11:00 horas.
Bastou um belo jantarinho para eu ficar totalmente mentalizado que a minha dolorosa e humilhante derrota tinha sido uma espécie dos nossos típicos Gambitos Sobremesa, e tudo ficou preparado para a inversão dos acontecimentos no dia seguinte, dia de jornada dupla que começou muitíssimo bem com um brunch impecável antes da partida das 11:00 horas.
Como "depressa e bem há pouco quem", o nosso staff técnico, que assumira pela primeira vez tais funções, desconhecia com rigor os poderes da magia apaxe.
E como não pouparam esforços para que a situação da primeira jornada se invertesse, o processo de inversão correu bem demais:
1) O meu adversário da primeira jornada, que me deu aquela coça que está no outro post, nunca mais apareceu no torneio e acabou com um ponto em nove (ou então, hoje em dia, amassar um apaxe está muito overated, já vale um torneio inteiro!);
2) Eu ganhei os dois jogos de domingo, recuperei a confiança e ganhei alguma forma;
3) A Cláudia também inverteu e depois do início vitorioso, empatou um jogo em que estivera melhor e, já sem resistência para a partida da tarde, foi batida por Guipi Bopala, uma promessa do xadrez canadiano com 7 anos e 2 semanas (o rigor etário das crianças é tramado! Pior só a sinceridade: depois de precisar a idade à semana, à pergunta "O teu jogo com ela, como foi?", limitou-se a olhar para o pai, encolher os ombros e fazer uma careta ao mesmo tempo que dizia "Fácil!".
Eis os destaques da ronda dupla:
Ronda 2
Cláudia vs Daniel Brossard
As Brancas jogaram Dxd8.
Te6 prometia coisas melhores :)
As coisas evoluíram e...
As Negras jogam Re6 e o final de torres vai acabar empatado.
Tiago vs Shao Hang He
42. a6 Bxa6
e o xeque intermédio resolve:
43. Bf6+ Bg7
e o Bispo bom entra em cena para ganhar o final
44.Bxe6 h6 45. Bxf5
Ronda 3
Guipi Bopala - Cláudia
Aquele Cb4 está mesmo a pedi-las e o miúdo dos 7 anos e 2 semanas não perdoa...
7. Da4+ Cc6
8. Bxf6 exf6
9. d5 (sayonara Cavalinho!)
Alexander Young vs Tiago
A posição branca não é famosa mas elas decidem fazer all in!
15. h4?? hxg5
16. hxg5 Dh5+
e não há mesmo mate para ninguém!
Esta cansativo dia de jornada dupla - não consigo gostar deste sistema que poupa um dia à competição (e dinheiro à organização e aos participantes - quem gostar, tem um óptimo em Lisboa, no Natal, organizado pelo Carlos Carneiro), mas obriga a dedicar entre 6 a 10 horas de um dia à jogatina, pouco mais sobrando para o extra-xadrez que, paradoxalmente, é o que leva alguns jogadores a participar nestas provas - foi duro também para a organização, não se vá pensando que há coisas que só acontecem neste rectângulo à beira-mar plantado.
Sem antecipar o que aconteceu no último dia, quer o modo como terminou a minha partida, quer o modo como um miúdo de 12 anos cedeu à pressão no torneio de rápidas e reagiu à derrota declarada pelo árbitro com um urro digno de um cabrito desmamado, o início da terceira ronda da minha secção não só se atrasou mais de uma hora, como o ritmo da partida foi alterado do regulamentar 90 minutos para 40 lances mais 30 minutos KO, com incremento de 30 segundos por lance desde o início, para 90 minutos + 30 segundos / KO.
De qualquer modo, foi falha que não estragou a festa e o tempo livre serviu para deixar de alugar relógios (Em Roma sê romano, de maneira que comprámos um DGT North American Edition para levar debaixo do braço para o tabuleiro), perceber o nível de dedicação das chess mums que pouco percebem de tácticos e estratégias mas dominam muito bem - e com que entusiasmo! - os critérios de emparceiramento e os níveis ideais de açucar no sangue dos seus jovens competidores.
Para a quarta jornada, segunda-feira, o nosso staff técnico adiantou-nos instruções detalhadas que nos permitissem sobreviver ao dia em que, pela primeira vez, estaríamos por nossa conta e risco, em virtude das obrigações profissionais de quem não estava de férias.
O programa das festas, muito científico e cuidadosamente construído, incluía 5 kms diários de bicicleta e mais uns quantos a pé, várias refeições leves por dia em locais sugeridos, bem como diversos spots turísticos para ir apreciando durante o caminho. O contacto entre a comitiva estava sempre assegurado por telefone e internet durante o dia, e à noite tinha lugar a reunião da tribo canadiana que depois remetia o relatório para Portugal.
No que diz respeito à nossa performance desportiva, a quarta jornada encontrou-nos perfeitamente preparados. Entrámos no F. Queen Elizabeth Hotel com o nosso próprio relógio na mochila, um agasalho para combater o ar condicionado e calçado que fazia sentir que tínhamos chegado ao local de jogo de carro, que não com vários quilómetros de bicicleta e marcha nas pernas. Estávamos completamente inseridos no meio, pois ao lado de um senhor que caminhava com um cajado, de um gigante de dois metros, cabelos grisalhos pelos ombros, calções, sandálias e um saco de pano pendurado ao pescoço, este apaxe apresentava-se com umas nike de corrida verde flurescente, pólo colorido e um casaco com letras multicolores a dizer "Life is better in Algarve".
A Cláudia, que só por uma vez não teve que aguardar que eu terminasse o meu jogo, fez muito facilmente uma série de amigos, desde a catraiada que lhe levava as peças e nos dias seguintes lhe agradeciam os festins com "hi fives" por entre correrias e a descida das escadas rolantes através do corrimão, até aos mais velhos com os quais partilhava as mesmas dores de serem trucidados por miudagem que por mal saber escrever, apontava as partidas graficamente com gadgets electrónicos como o Mon Roi. De entre estes, destaca-se o John, responsável pelo site www.toplessmontreal.com (a este podem aceder à confiança que, apesar do domínio, o conteúdo, embora descapotável, é diferente do referido no post anterior), que foi experimentar jogar um torneio de xadrez para descobrir melhor o jogo e verificar as reacções das pessoas em situação de competição e stress.
Fisicamente activos e socialmente integrados, os nossos jogos fluiram naturalmente, tendo a Cláudia conseguido culminar o seu ataque num xeque-mate e eu, apesar de não ter encontrado esse caminho vitorioso, travei uma boa batalha com o David Pena Frasier - creio que foi a minha partida mais interessante, embora a minha técnica não se tenha mostrado suficientemente desenvolvida para a vantagem de um peão ter frutificado em mais que na divisão do ponto que pontuou um justo empate.
As negras tentam um truque:
28. ... d4
(se 29. cxd4 Txc1 é mate!)
Mas a Cláudia está em forma...
29. Df5!
(ameaça mate em h7 ou capturar a Tc8)
Loading embedded chess game...
A segunda-feira correu de tal modo bem que não houve qualquer resistência em adoptar a mesma rotina no resto da semana.
Completamente fãs da cidade, os dias seguintes gozaram-se com revigorante tranquilidade. O sistema público de bicicletas, conjugado com as centenas de quilómetros que lhe são dedicados e articulado com o funcionamento pontual dos autocarros e a eficiente rede de metro, fazem com que a mobilidade nunca seja um problema. A sociedade está muito bem estruturada e embora me tenha parecido ver mais pedintes que no ano passado (ainda assim, nada comparado com o que se passa em Portugal), continua a ser marcante como a generalidade das indústrias (restauração, vestuário, hotelaria, comércio...) emprega pessoas com mais de 50 anos, sendo igualmente impressionante o elevado número de bébes e crianças que passeiam e brincam com os pais nas ruas e nos jardins a partir das 16:30 horas.
Apesar de as pessoas trabalharem o mesmo número de horas em Montreal que se trabalha em Portugal, o dia de trabalho começa antes das 9:00 e termina por volta das 17:00, o que permite usufruir - e muito - a cidade, seja através do desporto (jogging, ciclismo e skate, mas também ténis, futebol e... vólei de praia!) nos diversos parques e jardins nos quais os esquilos vivem à vontade e os cães têm amplas zonas vedadas que lhes são dedicadas, seja através dos piqueniques - são às dezenas, todos os dias em todos os parques.
Ronda 5
Alexandre Carou (Roménia) vs Cláudia
Os dois intervenientes noutro dia, daí as cores trocadas.
A Cláudia tentou simplificar e propôs a troca dos Cavalos.
O Alexandre faz de conta que não vê...
21. Df3
E a gulosa vai ao pote...
21. ... Cxc3
22. Dxf7+ Rh8
23. Dxe8#
Perdeu mas foi de barriga cheia!
Edward Selling (EUA) vs Tiago
As brancas decidem começar o festival das trocas...
... e as negras agradecem.
11. c5? bxc5
12. Bxe4?? fxe4
13. Ce5 Bxe5
14. dxe5 axb3
15. Cxb3
agora é ir empurrando e comendo...
15. ... c4
16. Cd4 Txa2
17. Ta1 Txa1
18. Bxa1
empurrar...
18. ... c5
19. Cc2 Da5+
20. Rf1 Cc6
21. f4 exf3
22. gxf3
... e comer
22. ... d4
23. exd4 cxd4
24. Bxd4 Cxd4
25. Cxd4 Da1+
0-1
O bom nível de vida generalizado é também visível no facto de nesta cidade com cerca de um milhão e meio de habitantes as bicicletas ficarem estacionadas na rua e não desaparecerem com frequência, as portas das casas estarem muitas vezes entreabertas e as janelas não se encontrarem frequentemente protegidas por cortinados.
Para este modo de vida deve contribuir o facto de os serviços públicos de prevenção e segurança estarem bem equipados e funcionarem: bombeiros e polícias conduzem verdadeiros aviões, têm porte atlético e estão amplamente equipados, além de levarem a sério o cumprimento do seu serviço - vi um sinaleiro autuar um peão que atravessou na passadeira mas em desobediência ao apito.
Ronda 6:
Na entrada para a recta final da prova:
- A Cláudia estava com 2,5/5, o que a deixava no grupo dos 29.º em 72 participantes (era a n.º 70 do ranking inicial da secção E);
- Eu tinha 3,5/5 e devia estar no grupo dos 13.º classificados. A secção C tinha 98 jogadores e eu era o 21.º do ranking inicial.
Laurianne Roussel vs Cláudia
A energia da Cláudia estava a dar de si nesta fase do campeonato...
Para defender a pregagem, as brancas jogam
11. Be2
e as negras complicam com
11. ... c5
12. Cxd4 cxd4
13. Cb5 e as negras esquecem-se do Bg4
13. ... Bc5?
14. Bxg4 Cxg4
15. Dxg4 ganhando a peça.
Tiago vs Ronald Moore
Com um peão a mais, quero trocar peças, não fazer uma corrida pelo escalpe...
16. ... g4
17. Cc4 Dh5
18. fxg4 Cxg4
19. Dxf5+ Dxf5
20. Txf5
e no final comi os peões negros ;)
Montreal estava repleta de eventos culturais, muitos deles de acesso gratuito. Para terem uma ideia, durante estes dias fomos ao festival "Noites de África", ao "Just for laughs", ao "Mondial des Jeux" e assistimos à competição internacional de fogos de artifício - tudo sem bilhete de entrada.
Quanto a curiosidades, no Canadá os concertos começam às seis e meia da tarde - e as pessoas já vão jantadas! -, e como os arrendamentos anuais são muito frequentes, as pessoas põe no lixo electrodomésticos, mobiliário e utensílios com papéis a dizer "ça marche" que os vizinhos levam para casa para substituir os seus que por sua vez vão para o passeio com igual "funciona"! Outra forma muito habitual de esvaziarem a casa ou os armários é através de vendas de garagem que são anunciadas em folhas A4 manuscritas coladas com fita cola nos postes de electricidade.
Nesta altura do campeonato já estávamos em piloto automático. A Cláudia, mais cansada, teve uma série negra, enquanto eu fui vendo com alguma surpresa que mesmo os oponentes que ainda estavam invictos no torneio, apesar de terem bons instintos atacantes, não tinham grande sentido de perigo e caminhavam com alguma naturalidade para os poços que eu ia cavando...
Ronda 7:
Cláudia vs Ziyi Zhong
Com veneno, as negras jogam
10. ... c5
As brancas são uma Apaxe En Passant
11. dxc6
E en passant vai também a Dama branca
11. ... Bxh2+
12. Rxh2 Dxd4
Christopher Baumgartner (EUA) vs Tiago
Esta vai completa em homenagem ao Josh
Loading embedded chess game...
Outra informação muito importante: em Montreal a venda de álcool está sujeita a licenciamento e só alguns restaurantes e supermercados é que o vendem. Antes das 5, 6 da tarde só nos vendem uma cerveja se também pedirmos qualquer coisa para comer. Como o vinho é caro, alguns restaurantes têm anunciado nas montras, ao lado dos pratos do dia, «Traz a tua garrafa»!
Penúltima jornada:
Anthony Atanasov vs Cláudia
Aqui fica para quem a perceber :)
Tiago vs Michael Chang
mesa 2 na penúltima ronda...
só se pode mentalizar para o escalpe!
Era preciso libertar o potencial branco.
13. e4
e as negras enganam-se
13. ... dxe4?
14. Cxe4 Db6
15. Cfg5 Cgf6
16. dxc5
com um peão a mais, avançamos umas jogadas:
22. Cd6 Dxc5
adeus peão?
23. Cxf5 Dxf5
24. Bd6 Dg5
25. Bxf8
olá, torre!
e um pouco mais à frente:
28. Tbxf7 Cxf7
29. Txf7 Dd8
30. Td7+
1 - 0
Rumo à luta, pelo título!
Com esta vitória ia subir da mesa 2 para terminar o torneio na 1.
Todas as incidências no próximo episódio ;)