domingo, 13 de junho de 2010

F. P. X. – Xadrez Reflexão e Debate

 

Federação Portuguesa de Xadrez 

 

ENCONTRO NACIONAL DE XADREZ

Reflexão e Debate

“Vamos pensar o Xadrez”

A 26 de Junho, a Federação Portuguesa de Xadrez, organiza um encontro nacional para todos os intervenientes na prática deste jogo.

Leiria foi o local escolhido, e a FPX pede a presença de todos, neste dia em que se pretende discutir o presente e o futuro da modalidade em Portugal.

Não tenho ainda a certeza se vou estar presente, vou tentar juntar mais 2 ou 3 e se conseguir lá estarei.

O grande assunto em debate será o regulamento de Competições da FPX, e claro, em cima da mesa estarão as competições nacionais de equipas, nomeadamente a 1ª e a 2ª Divisão.

Na próxima época, vamos disputar o nacional da 2ª Divisão, e o primeiro objectivo de quem chega à 2ª divisão nacional, devia ser subir à 1ª. Infelizmente para mim não é um objectivo. Nos moldes correntes, a 1ª divisão nacional não é minimamente atractiva para um clube como o nosso.

Não falo da obrigatoriedade de ter jovens em formação, isso temos com fartura felizmente, mas sim da prova em si e da forma como decorre.

Ter 6/8 jogadores durante uma semana a competir não é fácil. Custa muito dinheiro, e nem sequer existe a garantia de que todos possam lá estar nessa data. Que fazer, contratar? vai custar ainda mais dinheiro, e custará ainda mais, ver uma equipa que consegue a subida de divisão desfeita no ano seguinte, pela impossibilidade dos jogadores disporem de uma semana inteira para o xadrez, ou porque ninguém quer “passar vergonhas” e é melhor jogar pelo seguro e contratar  ½ dúzia de GMs.

Por vezes nem gosto que chamem àquilo que temos actualmente de 1ª divisão nacional, preferia que lhe dessem o nome de um torneio qualquer, um dos mais fortes em Portugal sem duvida, mas 1ª divisão nacional???

O que proponho (e começa aqui o meu pequeno contributo para a discussão).

Uma 1ª divisão nacional a decorrer em paralelo com a 2ª e 3ª divisões.

Como?

Temos actualmente 8 séries na 3ª divisão, 4 na 2ª, porque não formar duas séries na 1ª divisão, norte e sul, e depois uma fase final a exemplo do que acontece na 2ª e 3ª divisões?

Será assim tão difícil?, vai perder qualidade?, se calhar, mas vai ser uma 1ª divisão nacional, disso não tenho duvidas, jogada com jogadores a residir em Portugal, ou com mais tempo de permanência no nosso pais, e a consequente aprendizagem que dai todos poderemos retirar.

Sobre a 2ª e 3ª divisões, nada tenho a propor para alterar o seu funcionamento, é minha ideia e de que quem lá joga, que faz ali os seus melhores jogos e aqueles que lhes dão mais prazer. Conseguiu-se criar uma “mística” dos jogos em equipa nessas divisões (na 1ª nunca ouvi ninguém pronunciar-se assim), mas pensando mais um pouco, pouco ou nada se sabe e diz sobre o campeonato nacional da 1ª divisão. Fala-se nele (pouco) enquanto decorre, e quase nada depois que termina.

Uma hipótese seria a criação de uma liga profissional, já vi acontecer noutros desportos e sem grandes sucessos, mas é uma hipótese.

Campeonatos Distritais, aqui penso que podia propor uma pequena alteração, e aqui sim obrigar os clubes (pelo menos os que não têm equipas nos escalões nacionais) a disputa-los. É aqui que tudo começa, é aqui que se começa a criar a mística de que falo mais atrás. Campeonatos para os atletas mais jovens começarem a sua iniciação nos jogos em equipa. 6 Tabuleiros? Porque não. E porque não uma fase seguinte, nacional/regional para as equipa campeãs distritais.

 

“Grand Prix” Português

Gostava também de ver criado uma espécie de grand-prix Português. Um circuito nacional 4/5 Torneios, divididos pelo pais, fortemente patrocinados pela FPX, em colaboração com as Associações Distritais e as Autarquias que os recebessem. Calendarizado com 2 anos de antecedência, um trabalho a ser desenvolvido pela FPX em parceria com as Associações Distritais, provas a que todos se poderiam candidatar. Nesses torneios teríamos a presença dos jogadores de topo da FPX, e que muito poderiam contribuir para a divulgação da modalidade, e quem sabe até se conseguisse nas mesmas a presença dos grandes nomes do xadrez mundial. Na prática alguns desses torneios já existem, porque não “liga-los” de alguma forma, e permitir a entrada de outras localidades.

Não é fácil, nada o é, não tenho eu nem ninguém a formula mágica para resolver os problemas com que o xadrez se debate. Quero no entanto agradecer à Federação Portuguesa de Xadrez por ter aberto esta janela de oportunidade para que todos possamos discutir e “pensar o xadrez”. Penso e sempre pensei, que só com todos juntos podemos ir em frente.

Parabéns FPX

Cumprimentos

Joaquim Machado

ps. este texto é da minha exclusiva autoria, e não vincula a secção de xadrez do GDR Os Amigos de Urgezes ao mesmo.

5 comentários:

Fernando Costa disse...

A dissertação que faz é muito pertinente e assertiva. Naturalmente que a orgânica da 1ª divisão tal como está satisfaz um grupo selecto de executantes e o xadrez precisa desse grupo mas o principal campeonato nacional não pode ser só feito para esse grupo. Há que encontrar soluções e as que apresenta são realmente exequíveis e se calhar conciliáveis com todos os interesses.

Parabéns Sr. Machado!

Anónimo disse...

Olá,

Não me tenho pronunciado sobre as questões de organização das provas nacionais e infelizmente não vou poder estar no dia 26 em Leiria (trabalho também de xadrez...), no entanto parece-me haver alguns contributos que posso dar para o debate.

1- Campeonatos Nacionais de Equipas
Sobre este tema um dos aspectos interessantes é exactamente o titulo dos mesmos, a sua interpretação e as consequências da mesma, passo a explicar: Parece-me que a lógica inerente seria que fosse de clubes, havendo um campeonato com 2,3 ou 4 divisões e não vários campeonatos, tendo associado a ideia de que deveria haver apenas uma equipa de cada clube, que representaria o seu valor no campeonato (tem nível de 1ª, de 2ª etc...), a introdução das equipas B,C,D, etc... coloca uma aura de menor verdade desportiva nada estimulante para os participantes, criando ilusões de valias técnicas e títulos fáceis, que diria eu, pouco estimulam a evolução. ex: na série da II divisão que disputei 4 equipas não podiam subir (dado terem uma equipa na 1º divisão) pelo que naturalmente o seu empenho, disponibilidade para jogar/lutar, será obviamente diferente daquelas que lutam por esse objectivo, com todas as consequências que facilmente se imaginam.

Bem então colocam-se questões evidentes, o numero de clubes nas divisões iria descer, claro que sim, para o real dimensão da nossa estrutura associativa.

Por outro lado perguntar-se-á, então e os restantes jogadores? Ok, 3 hipóteses se colocam; Quer ter lugar na equipa principal, estude, dedique-se, evolua, etc... (como aliás acontecia quando comecei a jogar...), não quer ter esse trabalho, jogue na(s) equipas de reservas, isso também não lhe agrada, sai, muda para um clube de menor nível, ou forme um clube novo e lute por ter o nível necessário para estar na divisão X.

Naturalmente que as equipas de reservas, poderiam ter A,B,C, etc... e poderiam jogar nas mesmas datas, organizadas geograficamente, etc...etc...

Sobre o formato da actual 1ª Divisão a questão já foi intensamente debatida, no entanto parece-me evidente que passar para 6 tabuleiros e 16 equipas foi um erro. Não havia nem há, nível técnico em quantidade suficiente para passar de 40 para 96 jogadores de uma vez. O formato também promoveu algumas gestões de plantel pouco dignificantes do torneio, alem de ter esvaziado em cascata as divisões secundárias e distritais. Mas convém não perder de vista um aspecto importante, A 1ªDivisão a par da Figueira da Foz e esperemos do Open de Mirandela, são os únicos torneios que possibilitam "normas", factor que não pode ser esquecido se pensamos em qualidade e que se perderia seguramente num formato casa fora ao longo do ano.

Continua...

Anónimo disse...

Continuação...

2- Grand Prix ou Circuito Nacional
Em 2004/2005 organizei um circuito de torneios de partidas clássicas, era composto por torneios por mim organizados e por torneios de outras organizações que quisessem integrar o mesmo, não imagina as resistências que houve, nalguns casos impossibilidade, de se realizar esta associação, a lógica das "quintinhas" era e ainda é muito forte. Por outro lado a capacidade da FPX/AX... para patrocinar, é virtualmente nula, tanto ao nível financeiro, como principalmente logístico, pelo que a ideia embora virtuosa, parece-me no cenário actual pouco exequível, isto sem falar nos genéricos constrangimentos financeiros nacionais. Depois ainda há o aspecto mais filosófico, quem são os jogadores de topo que jogam...? A realidade das listas elo, mostra bem na coluna das partidas quem e o quanto joga, uma tristeza. De realçar que existe até agora apenas um torneio de clássicas de elevado nível em Portugal, o Torneio da Figueira da Foz e veja-se o quão pouco participado é, estamos muito pouco habituados a jogar torneios a sério, 9 rondas, pouca gente está disposta a meter férias para jogar um torneio de 9 dias...não há cultura de xadrez em Portugal, pouca nos dirigentes e espantosamente tem se vindo a perder até nos jogadores...

3- Organização em geral
sobre este assunto, vou ser bastante sintético.
Será muito difícil candidatar/organizar provas/eventos em quantidade e com qualidade (patrocínios, promoção, logística, etc...) sem que a FPX se convença de que tem de haver um calendário anunciado com pelo menos com um ano de antecedência.


Desculpem a extensão do texto...

Cumprimentos,
Carlos Carneiro
Mestre Nacional / Treinador / Formador / Técnico da AX Bragança

Joaquim Machado disse...

Boa tarde.

Caro Carlos Carneiro,
começo por lhe agradecer as palavras que aqui escreveu, mais um contributo para o futuro do xadrez em Portugal.

Li e reli, dou-lhe razão, quanto ao numero de equipas nas Divisões Nacionais, relativamente ao Pais. Quer-se sempre dar a oportunidade a mais jogadores e mais equipas de jogarem ao mais alto nível e poderem evoluir. Este é claro um assunto muito delicado e digno de muitas analises, até que um dia se consiga chegar à melhor formula, que por muito boa que seja, dificilmente será consensual, tal a diversidade de opiniões e interesses que o nosso pequeno Pais tem.

O "Grand-Prix"
aqui discordo de si, quanto àquilo que a FPX pode fazer.
Na minha opinião pode fazer e muito, começando por usar o poder institucional que tem, e que lhe permite chegar a muitas instituições.
Vejamos.
Julgo eu e muita gente pensa o mesmo, que está mais do que hora de a FPX criar um departamento de marketing, departamento esse que consiga trazer a comunicação social para o xadrez, e desse modo promover a sua divulgação.
Não é possivel procurar um patrocinador, sem lhe oferecer em troca aquilo que ele quer, publicidade, sem esse retorno publicitário, não temos um patrocinador, mas sim mais um mecenas, a fazer um donativo.

Para o circuito nacional ("Grand-Prix" Português), a FPX pode ajudar e muito, terá de o querer obviamente.
"Conquistada" a comunicação social, pode procurar, 1,2,3... patrocinadores nacionais, que poderiam por si sós cobrir os custos da prova (retorno em publicidade), depois em colaboração com as Associações Distritais, procurar patrocinadores locais (com retorno publicitário, a nível local e nacional).
Mas a FPX tem ainda mais para dar. Julgo que tem tabuleiros digitais, para transmissão em directo das partidas, o que ajudaria a concentrar atenções nos torneios, imagine-se que até se conseguia alguém para os comentar...

Quanto aos jogadores, essa que deveria ser a parte mais fácil, não é, mas esse é um outro assunto a ser discutido para que se encontre uma solução. Mas se o circuito for compensador estou convencido que eles aparecem.

Não é fácil, claro, mas temos de começar um dia. As "quintas" de cada um podem-se manter, o local do torneio seria atribuído por candidatura, todos se poderiam candidatar, e falo apenas de 4/5 torneios, a época tem espaço para muitos mais.

A calendarização dos mesmos é óbvio que tem de ser feita com antecedência, muita antecedência, eu proponho 2 anos, 1 para apresentar a candidatura ao torneio e mais 1 para o preparar.

Há claro muito ainda para discutir, o que é bom sinal...

Cumprimentos
Joaquim Machado

Anónimo disse...

Esta discussão está muito interessante e há muito a dizer. Mas permitam-me apenas duas/três questões:
- Não é estranho que se façam primeiro alterações "radicais" e só depois se promova um "Encontro Nacional de Xadrez - Reflexão e Debate"? E o que vai acontecer agora: volta-se a mudar radicalmente? E as expectativas entretanto criadas?
- Como se pode falar em divulgação e patrocínio de eventos quando temos a decorrer dois importantes torneios nacionais e a FPX apenas na segunda-feira (depois de já terem decorrido duas jornadas) apresenta a "página oficial" da prova? Como é possível só à quarta jornada podermos seguir os jogos em directo? Onde estão os ficheiro pgn das jornadas anteriores? É assim que se divulga o xadrez?

Meus amigos, a discussão a ter em Leiria será muito importante, mas ficarei surpreendido se de lá saírem conclusões concretas. Espero que os participantes consigam analisar todo o panorama nacional e não se percam com questiúnculas clubísticas, em que cada um apenas tenta levar a água ao seu moinho.