segunda-feira, 6 de abril de 2009

Campeonato nacional da 3ª Divisão

1ª ronda - GD Dias Ferreira III 3 x 1 GDR Os Amigos de Urgezes
Nós parecemos a Selecção Nacional. Não, não é a de xadrez, é mesmo a do chuto na bola. Trocamos bem a chincha, fazemos uns bonitos, damos a impressão que desta vez é que vai ser, mas quando chega a hora de metê-las lá dentro (da baliza, bem entendido), parece que nos tremem as pernas… Como não temos nenhum Queiroz para fazer de bode expiatório, apetecia-me deitar as culpas para o Machado. Mas não o faço, senão o homem ainda me deixa apeado em Trás-os-Montes quando formos defrontar o C. A. Mirandela… Bem, vamos lá ver os jogos.

Começámos logo com um autogolo. Eu não jogo a Siciliana de pretas, mas utilizo o Grand Prix Attack com as brancas. Já tive esta posição com as brancas várias vezes e sei que quando eu consigo avançar o peãozinho da coluna e, são más notícias para as pretas.


O João ainda devia estar a pensar nas meninas do Algarve, porque acabou de jogar 11…Dc7. É claro que se seguiu 12.e5!. Mas ainda foi pior a emenda que o soneto, porque as pretas continuam com 12…Cd7. O Miguel Simões deu-lhe com 13.Cd5! e já não há nada a fazer. O resto do jogo não foi bonito de se ver, e o meu amigo levou uma tareia. Uma hora de encontro e estávamos a perder 1-0.

Felizmente o nosso capitão parece estar a reencontrar a boa forma e ganhou um jogo excelente contra o Gustavo Pinto.

Até aqui, tudo teoria, embora as pretas já tenham o jogo mais fácil, porque as peças brancas da ala de dama ainda estão todas nas posições iniciais. E aqui, o Gustavo jogou 13.c4, o seu único erro importante em todo o jogo! Impunha-se 13.Cd2, para libertar as peças e tentar defender o rei com o cavalo em f3. Depois do lógico 13…Bf6, outra imprecisão, com 14.Dd2 (bloqueando tanto o cavalo como o bispo) deixou as brancas sem hipóteses de defesa, e o Vítor arrasou o seu adversário, ganhando em apenas 23 lances.

O que é que posso dizer do meu jogo? Neste campeonato, exceptuando o encontro em Barcelos, que quase acabou no início, tive 3 maratonas de mais de 3 horas cada. Independemente do resultado que me parecia que eu teria no desenrolar do jogo, fosse o empate (Ricardo Ribeiro), derrota (Luís Silva) ou vitória (Pedro Mendes), o saldo final foi igual: zero. Uns chamam-lhe aselhice, outros, falta de jeito. Eu acho que estou a precisar de ir à bruxa!

Esta foi a altura em que pensei que ia ganhar o jogo, porque o último lance das pretas parecia-me estranho (24…Dd6) e os peões da ala de dama não inspiram confiança. Depois de alguns (muitos) minutos de meditação, calculei e joguei 25.f5 Bf7 26.bxc4 Bxc4 27.Bxc4+ bxc4.

Aqui descartei 28.Da4, atacando o peão de c4, porque a dama preta entra em d3. Nos meus cálculos iniciais, julguei que o final de bispo contra cavalo dava-me boas hipóteses de jogar para ganhar com poucos riscos, e assim, pensei “troca de damas, peão para a4 e lá vamos nós”. Portanto, 28.Dd2 Dxd2 29.Bxd2 Rf7. OK, era esta a posição que eu tinha visto antes de iniciar a sequência. Tudo bem, não? Não. Qualquer marreta que olhe para o último diagrama vê que 28.De2 ganha o peão em c4. As pretas não o podem defender. Como é que eu considerei Da4 e não vi De2? Não sei explicar. O que sei é que depois disto o Pedro Mendes acordou e começou a jogar bem, e eu fiz uma asneira tão atroz que nem tenho coragem para a pôr aqui. No final do jogo, estava todo roído de inveja do João. Sim, ele tinha perdido também, mas pelo menos só sofreu uma horinha e estava lá ao fundo do anfiteatro descansadinho a ler um livro. Eu estive a transpirar três horas e meia e o resultado foi exactamente o mesmo...
E para compor a nossa desgraça, o Carlos perdeu um jogo que pareceu quase ganho.

Nesta altura já estavam os dois com pouco tempo no relógio. O Carlos tem um peão a mais e pode trocar o peão de b5 pelo de g4, com 45.Cxb5. Três peões contra um na ala de dama devem chegar para ganhar, embora não seja fácil. Mas as brancas continuam com 45.Cd5 Bxg4 46.Tc6+ Rh5 47.Txa6 Td2+ 48.Rg1 Txb2 49.Ta5 Be2. O meu software indica que as brancas já não podem ganhar. O bispo está muito bem colocado, e os peões brancos são todos fracos. Além disso, se as brancas não tiverem cuidado, a entrada do rei pode criar uma teia de mate. Não sei se o Carlos se apercebeu disto na altura, mas o Roberto Mendes tinha tão pouco tempo no relógio que o Carlos continua a procurar uma solução para ganhar a partida e, pelo menos, empatar o encontro. Assim, 50.Ta7 g5 51.Tg7 (ameaça mate com Cf6) Rg4 52.hxg5 hxg5 53.Cf6+ Rxg3

E agora já não há mesmo nada a fazer. As brancas têm de aceitar o perpétuo, ou levam mate. O Carlos ainda tinha uns 6 minutos no relógio, o Roberto apenas um. Que nome damos a isto? 54.Txg5+ Rf4 55.Tf5+ Rg3 56.Ch5+??? 0-1

Só me apetecia ter um buraco para me enfiar. O Pedro Mendes, na inconsciência dos seus 15 anos, vira-se na minha direcção e diz “que sorte!”. Sorte a deles que eu não ando armado!

GD Dias Ferreira III 3 x 1 GDR Os Amigos de Urgezes
Tabuleiro 1 – Gustavo Pinto 0 x 1 Vítor Costa
Tabuleiro 2 – Roberto Mendes 1 x 0 Carlos Machado
Tabuleiro 3 – Miguel Simões 1 x 0 João Costa
Tabuleiro 4 – Pedro Mendes 1 x 0 Alexandre Mano
Incidências do encontro à parte, parabéns aos amigos do Dias Ferreira pela vitória e obrigado pela recepção.

(...)Cheguei à casa às 8.30. E a mulher: "Isto são horas? Pelo menos, desta vez, ganhaste?"... E ainda não querem que haja divórcios nem violência conjugal..

4 comentários:

Miquinhas disse...

É a vida! Umas vezes ganha-se outras perde-se. Desta vez perdemos e perdemos bem, apesar de eu ter estado confiante que íamos conseguir o 2-2!
Enfim, para Maio há mais.
Parabéns aos amigos do Dias Ferreira!

Anónimo disse...

Pois é, é a vida... O que é preciso é não desistir.
Agora o texto está demais, já não me ria assim à algum tempo...
Abraço
Miguel Pires

Fernando Costa disse...

Estar na hora da Liga dos Últimos aparecerem por Urgezes. Temos matéria para um programa.

Joaquim Machado disse...

Como já disse e volto a dizer...
Vamos perder todos os jogos que temos de perder... mas quando começarmos a ganhar... cuidado... tenham medo... muito medo!!!

ps. quanto à chicotada psicológica, a gente depois fala.
ps.2 - tem dado gosto participar neste Nacional da 3ª Divisão. Podemos perder, mas a emoção dos jogos tem sido fantástica. Grandes tardes de xadrez.

Cumprimentos Joaquim Machado