Campeonato Nacional da 3ª divisão

3ª Ronda - GDR Os Amigos de Urgezes 2,5 x 1,5 O Bila - Vila Real

E enfim, à 3ª ronda isolamo-nos na liderança da série A, de onde esperamos não sair mais até ao final do campeonato. Ontem até nos correu bem, mas fizemos por merecer.

Bem menos pacífica é a reacção dos jogadores de xadrez quando chegam a casa. Desde o meu sogro ("ganhaste? então os outros deviam ser ceguetas!") até ao meu irmão Cláudio ("quantos anos tinha o miúdo que te deu coça desta vez?") são muitos que me fazem ver que é difícil ser adulto e jogador de xadrez. É só comigo ou convosco também se passa o mesmo? É por isso que estas crónicas têm de ter fotos. Se não for assim ninguém se acredita.

O João voltou a ser o primeiro a acabar, o que já é hábito (e não me estou a referir outra vez ao jogo de Mirandela, João - mas não repitas a brincadeira, OK?). O João aproveitou bem um erro do adversário e ganhou um peão logo a sair da abertura, mas parece-me que o momento do jogo foi este

As pretas jogaram 13...Dc7, e as brancas têm todas as razões para manter o cavalo em e5, mas o lance certo deve ser 14. f4. O João jogou 14. Cdf3, mas se o João Ramos tivesse respondido com 14...g5, teria sido um problema. Felizmente para nós não o fez, e a partir daí o João tomou conta dos acontecimentos e não teve grandes dificuldades.

No primeiro tabuleiro, o Fritz (a nossa alcunha carinhosa para o Paulo) voltou a passear a sua classe. 

 

O Paulo acabou de jogar 18. c5!. As brancas já estão melhor, mas este lance é decisivo. A coluna c vai ser aberta, e pouco depois as brancas ganham uma peça. O jogo ficou logo resolvido.

Neste momento, utilizei os meus poderes de capitão para propor um empate que foi imediato aceite, garantindo a nossa vitória, mas já lá vamos. O meu jogo acabou por ser o mais interessante, porque uma abertura que, em teoria, deveria ser relativamente calma deu logo origem a uma batalha táctica logo no lance 6, quando o meu adversário jogou 6. Cxe5 na posição seguinte.

E agora, o cavalo toma-se ou não?

É claro que é possível tomar, mas não deixa de ser arriscado, principalmente porque esta pode ser uma manobra preparada e conhecida pelo meu oponente, e são dois peões e o rei fora do sítio como compensação. Assim, joguei 6...De7.

Muito mais à frente, o Mário Guedes cometeu mesmo uma argolada, jogando 22. c3? aqui, quando 22. Cxg7 ganha um peão de borla.

Eu aproveitei a oportunidade para ganhar o bispo com 22. b6. Com mais alguns erros à mistura, tentei atingir uma posição que me permitisse criar uns peões passados na ala de dama, mas com tantas peças tão juntas, acabei por mandar a minha patada

Simplesmente 30...a4 defende o bispo, mas "lembrei-me" de jogar 30...Cd2. Se as brancas tivessem visto 31. Td4!, lá ia a peça. Felizmente o lance foi 31. Te2, e continuei em vantagem. Porque é que nem eu nem o Mário vimos um lance tão simples? ("porque são fracos" - 'tá bem, mas não era aqui que eu queria chegar). Penso eu que a razão deve ser psicológica. As brancas lutaram para colocar a torre na coluna e, que está aberta, e parece que a única esperança de salvação é conseguir qualquer coisa com um xeque em e8 seguido de tomar alguns peões. Deve ter sido por isso que um lance que retira a torre da coluna e não é fácil de ver ("e porque és fraco". OK).

Só para que restem dúvidas sobre a forma como consegui empatar isto, a posição final é esta

São as brancas a jogar, mas ao contrário do que se estava a comentar ontem, não é mate em 2 nem em 4. É mate em 7. Implica que as brancas entreguem mais uma peça para adiar o mate, mas é assim. Eu percebi que o Carlos estava perdido, e pareceu-me, na altura, apropriado propor um empate para garantir a vitória no encontro. Agora já não me parece tanto... Também confesso que, no minuto ou dois em que estive a cogitar o que fazer, só tinha visto o mate com o cavalo em g3 (Cf1 - Cg3). E este mate não começa com um xeque e deixa um lance livre para as brancas. Se eu tivesse visto também o mate com a torre em g3 (Tg3+ - Cf1), provavelmente teria resolvido isto de outra forma. Mas já lá vai.

O Mário no final disse que "detestava lentas". Também achei... o homem joga com uma velocidade super-sónica. A determinada altura tinha ele 80 minutos no relógio e eu 15. Eu fui ver-lhe o perfil e é campeão distrital de rápidas. Não admira.

Por último, o jogo do Carlos. ele teve um lance infeliz que resolveu um jogo que estava equilibrado. Foi aqui

E o lance foi 21...Bc3.

Tabuleiro	GDR Os Amigos de Urgezes	2,5 - 1,5	O Bila
1	Paulo Pinho	1 - 0	Vítor Vaz
2	Carlos Machado	0 - 1	José Wilson
3	João Carlos Costa	1 - 0	João Ramos
4	Alexandre Mano	½ - ½	Mário Guedes

Mesmo assim acho que o ponto alto da tarde foi a declaração de um nossos visitantes, que veio para jogar uma partida do Distrital e disse-me "está aqui mais gente que qualidade". Esteve quase, mas mesmo quase, a perder com um dos nossos miúdos, que ainda não completou os dez anos de idade...

Para a próxima pode ser que já não diga o mesmo.