terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Uma oportunidade perdida

No xadrez não há bolas no poste, nem golos falhados de baliza aberta. Mas no final do encontro com a equipa do Grupo de Xadrez do Porto, no passado sábado, a sensação que eu tinha era a de termos falhado uma série de oportunidades, e em consequência disso, termos sido impiedosamente goleados.
Depois de mais ou menos uns quarenta minutos decorridos na sessão, levantei-me para observar os meus colegas. O Vítor parecia estar em dificuldades, mas ao Carlos e a mim os jogos estavam a correr bem. O jogo do Hugo era demasiado complexo para que pudesse ter uma opinião, mas até aí, nada mal. Passado pouco mais de uma hora, já eu e o Carlos tínhamos perdido, enquanto nos outros tabuleiros pouco havia mudado. Foi só ao fim de três horas e meia que a nossa derrota se tornou oficial. Os jogos não merecerão uma análise muito aprofundada, mas vou tentar capturar os momentos críticos, quando o curso do encontro poderia ter sido alterado. A nosso favor, é claro.
Começando pelo jogo do tabuleiro 1, o Vítor deu (ou perdeu) um peão no final da abertura, mas conseguiu um peão passado na coluna b. As pretas conseguiram avançar os peões centrais, mas nesta posição



o Vítor escolheu dar um xeque em a2 com a dama. O xeque em b3 com o bispo, no entanto, obrigaria a uma troca de torres na coluna c e o consequente enfraquecimento do ataque na ala do rei. Pouco depois as brancas têm outra oportunidade.

As pretas jogaram 33…Te8. Mas o cavalo pregado em d5 é um problema, e se as brancas jogam 34. f4, o melhor para as pretas parece ser tomar o peão, permitindo às brancas trocar a torre pelos dois cavalos. Depois de 34, f4 exf4 35. Txe3 dxe3 36. Dxe5+ Rh8 37. Ce5

qualquer resultado é ainda possível. O mais provável é que o jogo termine com xeque perpétuo. E pouco mais à frente, ainda uma última chance para as brancas.

Se as brancas tomam a dama, qual peão é mais perigoso? O de b5 ou d4? Depois de 37. Qxe7 Txe7 38. Tb2, não seria fácil apostar num resultado final. Diga-se que o Vítor já tinha pouco tempo no relógio nesta fase do jogo (menos de 10 minutos) e que mesmo depois de toda a tensão acumulada num jogo tão complexo as pretas fecharam com uma excelente combinação. Notável a presença de espírito do Hélder Pinho ao final de mais de três horas de xadrez!
No segundo tabuleiro, tudo estava calmo até que o Carlos (de pretas) ganhou um peão ao lance 24. Devolveu-o logo a seguir e esta posição foi atingida no lance 29.

O peão de c5 é indefensável, mas os dois peões passados são perigosos. O Fritz sugere 29…Cd3, mas incrivelmente, o Carlos jogou 29…d3, a que se seguiu (claro) 30. Dxc5. O Carlos lutou até final, mas com uma peça a menos já não havia muito a fazer. Embora tenha tido o maior número de lances de todo o desafio, este foi o primeiro jogo a acabar.
O meu jogo já foi analisado pelo Joaquim Pinho, pelo que só vou relatar as minhas impressões. A abertura correu-me muito bem, e as pretas foram obrigadas a enfraquecer o roque e isolar um peão numa coluna aberta para evitar males maiores. Chegado a esta posição

pus-me a pensar que não deveria ter permitido os dois últimos lances das pretas (Cbd7 e Bd5), que fortaleceram a defesa, enquanto os meus (De2 e Tae1) não seriam muito relevantes. Ainda a pensar no que deveria ter feito e não no que devia fazer, decidi que não podia deixar o peão de e6 avançar que o bispo estaria melhor em e5 que em g5. E daí joguei 17. Bf4. O meu adversário não demorou mais de um minuto a ver que o bispo em f4 era um alvo fácil e o resto está na análise do jogo. Mas depois deste disparate, o meu cérebro bloqueou e só passei a ver lances parvos, além de ter ficado imediatamente convencido que estava perdido, quando uma análise fria ter-me-ia convencido que eu nem pior estaria. O meu adversário, claro, foi implacável e ganhou convincentemente.
Já o jogo do Hugo foi muito complexo, e é natural que tenha havido vários erros de parte a parte. Depois de perder um peão ao lance 13, o Hugo teve algumas hipóteses para recuperar o material, mas não as aproveitou. Mas nesta posição, com os dois jogadores já nos últimos minutos do seu tempo,

um lance normal como 36…Bd7 teria ainda deixado tudo em aberto, embora as brancas mantenham o peão a mais. Mas o Hugo jogou 36…Ta8 ao que o Francisco Reis imediatamente respondeu com 37. Dh6. Um esforço fantástico do Hugo, que acabou de forma inglória.
Conclusões? Como escrevi no início, não há “ses” no xadrez, mas 4-0 foi um resultado cruel para nós. É claro que temos de melhorar, mas acredito que resultados destes tornar-se-ão cada vez mais raros, porque estamos a crescer. E uma última palavra aos nossos adversários: limparam-nos o sebo, mas será difícil recebermos equipa mais simpática que os amigos do Grupo de Xadrez do Porto. Mas, como o Vítor disse no final, vejam lá se para o ano não mandam a equipa C para nos dar um enxerto!

3 comentários:

Joaquim Machado disse...

"...É claro que temos de melhorar, mas acredito que resultados destes tornar-se-ão cada vez mais raros, porque estamos a crescer. ..."

Não podia estar mais de acordo... Parabéns.
Perdemos claro, mas um dia vamos ganhar, e esse dia dia está cada vez mais perto. A nossa equipa e o nosso grupo cresce de dia para dia, e é com orgulho e alegria que vejo um clube muito novo ainda nestas andanças do xadrez de alta competição, a bater-se desta forma, tornando as vitórias dos nossos adversários, como que conquistadas a ferros. Ninguem pense que vem cá já com o jogo ganho e que em "1/2 hora" limpa isto e vai-se embora. Penso que vamos conquistando o respeito de todos os nossos adversários.
Não vou claro comentar os jogos, porque iria concerteza dizer meia duzia de asneiras sem nexo. Comento isso sim, o ambiente em redor destes jogos. Confesso que é sempre um pouco penoso para mim abdicar da minha tarde de Sábado a jogar bilhar (esse jogo fascinante, em muito semelhante ao xadrez, pela análise que tambem é preciso fazer da mesa, jogada a jogada, tendo o cuidado sempre de saber onde colocar a bola branca, para dar a tacada seguinte, e ainda com a vantagem de poder mexer nas peças do adversário), mas, e digo-o sem falsas modéstias, é um enorme prazer para mim, estar lá e observar todo o ambiente que ali se vive. Poder ver todos os tabuleiros, analisar as reacções dos jogadores em cada lance, vê-los quebrarem a concentração sempre que alguem num qualquer tabuleiro faz determinado lance, e logo todos se debruçam para tentar perceber o que aconteceu, o que se passa. Estar ali ao Vosso lado, sentir o "cheiro" a xadrez que paira no ar, repito é um prazer, que se torna ainda maior, pela postura que o nosso clube tem, pela forma como recebe e pela forma aborda o jogo. Estamos ali para jogar um jogo que nos dá prazer, e é com prazer que o disputamos.
É pena não jogarmos todas as semanas. Venha depressa o Nacional da III divisão, porque alguem vai "pagar a factura".

Cumprimentos
Joaquim Machado

ps. apesar de estar pronto, não vou publicar hoje o "post" desta semana da regras de xadrez. Não quero mandar já para baixo este excelente artigo do Alexandre Mano. Vou deixá-lo aqui em cima mais pouco, para que todos possam lê-lo e comentá-lo.

Anónimo disse...

Neste espaço tenho-me pronunciado como dirigente do GDR Os Amigos de Urgeses, mas também na qualidade de presidente da AXDB, não posso deixar de congratular-me com o profissionalismo que o clube de Guimarães Sul tem revelado.
Paulatinamente a equipa ganha consistência e qualidade nos seus quadros sociais e técnicos.

O xadrez no nosso distrito tem novos referenciais por onde se orientar e o xadrez necessariamente ficará a ganhar.

O que se faz em Urgezes deve servir de exemplo para outros clubes de outros concelhos, para isso é necessário disponibilidade, espírito colaborativo e vontade de aprender e de saber mais.

Um abraço escaquístico,para esse nossos embaixadores de Urgeses.

O presidente da AXDB

Fernando Costa


Parabéns aos amantes do xadrez

Anónimo disse...

Isto é que é um post sobre a Taça de Portugal!