Campeonato Nacional da 3ª Divisão

3ª Ronda - CCC Barcelos 0,5 x 3,5 GDR Os Amigos de Urgezes

Ontem fizemos a nossa primeira deslocação do Campeonato, com a viagem a Barcelos para defrontar o Clube de Campismo e Caravanismo local. Para nós um encontro muito importante depois da derrota na semana passada. Dado que os nossos adversários também ainda não tinham vencido nenhum encontro, não se antevia tarefa fácil, pelo menos no que toca à parte emocional.
Não poderíamos ter tido melhor início. No tabuleiro 4, praticamente ainda na abertura, deparei-me com esta posição

O último lance foi 9…b5, o que me parecia muito arriscado, abrindo toda a diagonal h1-a8 para o bispo de g2. Joguei 10.e5!?, mais ou menos à espera que a resposta fosse 10…Cd5. Não foi, e depois de alguns lances infelizes, o José Pedroso perdeu uma peça e o bispo à Machado de g2 ainda foi buscar a torre em a8. Assim, em uma hora estávamos a ganhar o encontro.
O jogo que praticamente decidiu o encontro foi jogado no tabuleiro 3. O João (de pretas) ganhou um peão, e tentava suster o ataque das brancas. A posição chave é esta

Uma das ideias das pretas deveria passar por centralizar a torre com 29…Te8, e ter cuidado para não trocar peças a mais, em vista dos bispos de cor contrária. Mas o João jogou 29…g5?, o que logo à primeira vista, e eu estava a ver o jogo de longe, pareceu-me desnecessariamente arriscado. E, confirmando o adágio de que somos todos craques nos jogos dos outros, 29…g5 é mesmo um mau lance, embora só tenha visto porque quando passei o jogo para pgn. O problema é o bispo desprotegido em d5. Se o Pedro Vilas Boas tivesse visto 30.Bxg5!, poderíamos ter tido um amargo de boca, já que depois de 30.Bxg5! fxg5 31.Da1+! (provavelmente este é o lance que escapou ao João) Dg7 (forçado) 32.Dxg7+ Kg7 33.Txg5+ o bispo cai. O Pedro viu os lances, mas baralhou completamente a ordem deles, e jogou 30.Da1 Dg7 31.Bxg5 fxg5 32.Txg5

e não preciso dizer qual foi o lance das pretas, pois não?
O nosso super-capitão, no tabuleiro 1, conduziu calmamente o seu jogo, e quando nos apanhamos a ganhar por 2-0, propôs o empate, que foi aceite pelo adversário, assegurando a nossa vitória. Houve apenas um momento em que as brancas pareciam ganhar a iniciativa, depois de 17.Qd2.

A dama vai encaminhada para e3, e o controlo da coluna d, além da pressão sobre os peões c5 e e5 podem ser factores incomodativos. Para já, nada de decisivo, mas é nestas alturas do jogo em que um ou dois lances preguiçosos podem entregar todas as chances ao adversário. Mas o Vítor jogou o excelente 17…Bb3!, e tudo o que eu escrevi acima são ilusões. Reparem na quantidade de coisas positivas que o bispo faz em b3: controla a casa d1; impede o avanço do peão de b2, o que por sua vez evita que a torre de a1 se possa movimentar; e permite que a dama defenda e5. Para mim, lances destes são ainda mais bonitos (e por vezes mais difíceis de encontrar) que os sacrifícios. Se olharmos novamente para a posição, vemos que são as pretas que podem agora controlar a coluna aberta e ganhar algum ascendente, mas o jogo concluiu logo a seguir.
No tabuleiro 2, um jogo muito táctico conduziu, como seria de esperar, a uma série de sustos (e erros). A posição crítica foi esta

O último lance das brancas foi 24.Dc2. O ataque das pretas é muito perigoso, embora estejam a jogar, na prática, com uma peça a menos (o bispo de a7). Se a dama das pretas se coloca na coluna g, as brancas ficam em dificuldades. Assim, depois de 24…Bxf3 25.Txe3 Dg4, não vejo outra solução para as brancas que não passe por dar o bispo de h4. Assim, 26.Tg3 (26.Bg3 h4 é ainda pior; o peão de h5 é muito forte) Dxh4 27.Txg8+ Cxg8 seria a sequência lógica. O bispo de a7 ainda não conta para o totobola, mas uma peça é uma peça. As pretas estão em vantagem. O Dejair, no entanto, optou por 24…d5, o que em si não parece mau, mas depois de 25.exd5, não tomou, preferindo 25…Df5? Dois lances depois perdeu a dama, e o jogo.
Os resultados:

CCC Barcelos 0,5 x 3,5 GDR Os Amigos de Urgezes
Tabuleiro 1 – Ricardo Branco 0,5 x 0,5 Vítor Costa
Tabuleiro 2 – Dejair Santos 0 x 1 Carlos Machado
Tabuleiro 3 – Pedro Vilas Boas 0 x 1 João Costa
Tabuleiro 4 – José Pedroso 0 x 1 Alexandre Mano

Em ocasiões anteriores referi que o desenrolar de alguns dos nossos encontros não correspondia ao resultado final. Hoje não me custa reconhecer que tivemos alguma sorte e que o resultado é exagerado. Ganhámos bem, mas ainda temos de melhorar. Mas isto é assim, às vezes para o nosso lado, outras contra.
Por último, um grande abraço para os nossos amigos de Barcelos, que nos receberam com enorme simpatia e foram generosos na derrota, felicitando-nos com um sorriso e com votos de boa sorte. Desejamos que eles também a tenham e que não esmoreçam. E para os meus colegas da equipa, parabéns!; e vamos a eles!